Violência Velada

Quem nunca presenciou uma situação de violência moral e psicológica e simplesmente se calou? Ou melhor, quem nunca presenciou uma situação de violência moral e psicológica e nem, se quer, sabia que estava diante de uma?

Dentre os tipos de violência, destaca-se essas duas, não por serem “piores”, afinal não existe uma violência pior que a outra. Mas por serem abstratas e de difícil associação. Não dói no corpo físico (a princípio), mas dói na alma, e a constante exposição a este tipo de tratamento, permite-se desenvolver doenças que já não mais serão ocultas.

Segundo a lei 11.340/06:

II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; […] V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (Lei Maria da Penha – 11.340/06)

 

Todos estão sujeitos, mas as violências que perfuram o ser e todo seu sistema de significado do eu, acometem, principalmente, pessoas que tiveram sua concepção de valor desregulada ao longo do seu desenvolvimento, tendo como reforço de crenças incapacitantes pela sua trajetória, comovendo diretamente na sua autoestima.

Autoestima é a avaliação subjetiva, o valor e percepção que cada um tem si mesmo e ela pode ser boa ou ruim. É construída desde a infância, de acordo com os estímulos recebidos da família e do convívio social; sua manutenção acontece por toda a vida adulta.

Dentre as principais buscas para o fortalecimento da nossa autoestima encontra-se o autoconhecimento, autoaceitação e a autoconfiança.

Subsequente, o primeiro significa ter consciência das suas caraterísticas, personalidade, história, crenças, valores e limites; o segundo, ter respeito para com seus erros e acertos, suas qualidades e defeitos (e não os negligência); e o terceiro, acreditar em sua competência, capacidade e valor.

Uma vítima, ao estar diante de uma situação de violência psicológica e moral, pode vir a acionar todas as suas crenças limitantes, fazendo com que estas crenças a direcionem para um comportamento de maior inclinação a uma autopercepção desvalorizada, falta de esperança e sentimento de impotência, fazendo com que elas se estabeleçam como pessoas sem poder e direitos. (Caridade & Machado, 2006; Félix, 2012; Lynch & Graham-Bermann, 2000 apud Paiva, Pimentel e Moura, 2017). Por isso é tão comum vermos mulheres dependentes de relacionamentos que lhe agridem, e não é porque elas mereçam ou queiram.

O acúmulo da agressão ou até mesmo um fato isolado, dependendo da sua carga genética, é o suficiente para trazer transtornos mentais a tona, com prejuízos por toda a vida.

E como reconhecer essas agressões? O IMP (Instituto Maria da Penha, 2018) nos mostra alguns exemplos. Para violência psicológica, entende-se situações de “ameaças, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento (proíbe-se a vítima de estudar e viajar ou de falar com amigos e parentes), vigilância constante, perseguição insistente, insultos, chantagem, exploração, ridicularização, tirar a liberdade de crença e gaslighting (manipular e distorcer informações para deixar a mulher com dúvida sobre sua memória e sanidade); Para violência moral, “acusações de traição, emissão de juízos morais sobre a conduta, exposição da vida íntima, críticas mentirosas, xingamentos que incidem sobre a sua índole, desvalorização pelo modo de vestir”.

Para além do acolher, reconhecer, denunciar e combater, precisamos conscientizar. O trabalho preventivo através de informações pode proporcionar uma mudança de pensamento e consequente mudança de comportamento. Uma sociedade egocêntrica carece de esclarecimento diante de assuntos que parecem tão óbvios. O exercício da empatia, pode ser um caminho.

Buscar o autoconhecimento permite o despertar para as nossas questões bem como para o valorizar a nossa história.  Estar diante de você mesma pode contribuir para entender e cobrar o nosso valor e nosso lugar no mundo: de destaque, respeito e igualdade.

Maíra Nogueira.

Referências Bibliográficas

Paiva, Tamyres Tomaz; Pimentel, Carlos Eduardo; Moura, Giovanna Baaroca. Violência conjugar e suas relações com autoestima, personalidade e satisfação com a vida. Gerais, Rev. Interinst. Psicol. vol.10 no.2 Belo Horizonte dez. 2017

IMP. Instituto Maria da Penha. Tipos de violência. Disponpivel em: https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/tipos-de-violencia.html. Acesso em: 26 mar. 2021.

BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm. Acesso em: 27 jul. 2018.