Falsas Memórias

“Falsas memórias” (FM) é um tema que vem sendo estudado, cada vez mais, por diversos cientistas em todo o mundo. É um fenômeno intrigante e, eventualmente, perigoso. Decisões judiciais acerca da Alienação Parental, abuso sexual infantil, entre outros, podem ter interferência deste sistema.

Segundo Alves e Lopes (2007) as FM’s são explicadas por três modelos teóricos: Construtivismo, Monitoramento da fonte e Teoria do traço difuso. Para elaborar este texto e a favor da compreensão de quem vos escreve, adotarei o modelo construtivista para a elaboração do artigo.

As Falsas Memórias (FM´s) podem ser definidas como lembranças de eventos que não ocorreram, de situações não presenciadas, de lugares jamais vistos, ou então, de lembranças distorcidas de algum evento (Alves e Lopes, 2007 apud Roediger & McDermott, 2000; Stein & Pergher, 2001). São memórias que vão além da experiência concreta e que incluem interpretações ou induções que podem, até mesmo, contradizer a própria experiência real (Alves e Lopes, 2007 apud Reyna & Lloyd, 1997). As FM´s podem ser elaboradas pela junção de lembranças verdadeiras e de sugestões vindas de outras pessoas, sendo que durante este processo, a pessoa fica suscetível a esquecer a fonte da informação ou elas se originariam quando se é interrogado de maneira evocativa (Alves e Lopes, 2007 apud Loftus, 2005).

Nosso cérebro não tem a capacidade de gravar situações que aconteceram de forma exatamente precisa. A memória é um sistema complexo e tem habilidade de reconstruir lembranças e preencher vazios. Memória é reconstrução.

Importante relatar que na FM a pessoa acredita, verdadeiramente, que vivenciou determinado fato. Ao lembrar-se de maneira distorcida, quando recebemos informações distorcidas e erradas de uma pessoa, podemos contaminar ou modificar nossa memória.

O lembrar-se é um processo construtivo baseado nas crenças sobre si mesmo, sobre a própria visão de mundo, sobre as experiências já vivenciadas, expectativas, e conhecimentos adquiridos ao longo do desenvolvimento. É combinação do que acreditamos, pensamos e experienciamos. Os detalhes de uma recordação específica “não podem ser totalmente relembrados, mas seus temas gerais ficam gravados na memória […] assim, quando as pessoas tentam recordar fatos bem antigos, elas são guiadas por temas e esquemas gerais do evento e completam as lacunas já esquecidas com detalhes consistentes a estes esquemas” (Alves e Lopes, 2007 apud Roediger & McDermott, 2000).

As FM’s podem se originar de forma espontânea, criadas internamente no indivíduo como processo normal, ou sugerida, que diz respeito àquela que resultam de uma sugestão externa ao indivíduo, proposital ou não, com características coerentes com o fato porém com conteúdo que não faz parte do evento experienciado (Reyna & Lloyd, 1997).

A primeira, pode acontecer para suprir necessidades emocionais existentes de acordo com cada crença e esquemas de comportamentos individuais, processo muitas vezes inconsciente, existente como mecanismo de defesa do ego; e a segunda, também é concretizada instintivamente mas, muitas vezes intencionalmente por parte do indivíduo externo.

Muitos casos de alienação parental levam em questão as falsas memórias, pois ao serem criadas por sugestões de terceiros elas podem ser tão reais que o sujeito envolvido é capaz de oferecer riqueza de detalhes sobre um fato que na verdade não aconteceu. Nessas situações existem ocorrências em que o genitor induz a criança a se lembrar de algo fantasioso, se tratando apenas de memórias plantadas com repetição de histórias.

Conhecimento técnico e cuidado dobrados são necessário nos casos que relatam abuso sexual e psicológico na criança. O trabalho dos envolvidos (juízes, advogados, assistentes social, psicólogos, juris..)  se torna mais delicado, e a necessidade de uma maior fonte de informações aumenta. Acompanhamento, avaliação psicossocial, aplicação de testes e técnicas específicas são indicadas para o julgamento, a fim de que a justiça não seja contaminada por um fato, que na verdade, não existe.

Maíra Nogueira.

 

Referência Bibliográfica.

Alves, Cíntia Marqies; Lopes, Ederaldo José. Falsas Memórias: quesntões teórico-metodológicas. Universidade Federal de Uberlândia – Brasil , 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n36/v17n36a05.pdf . Acesso em 01 de Maio de 2021.