Ser mulher é uma verdadeira dicotomia. A busca pela liberdade emocional que nos proporciona o desenvolvimento do empoderamento e da autoridade passa por uma construção histórica social carregada de desvalorização, descrença, violência e desamparo. E até os dias atuais carregamos esta carga cultural. Um peso que vai para além do seu significado concreto e se tornou um mecanismo de defesa para a maioria das mulheres: aceitar as condições e a fragilidade é, muitas vezes, uma forma de se manter viva.
Por este motivo é tão difícil nos sentirmos livres. Enquanto a nossa sociedade carregar nas veias o machismo estrutural, nós, mulheres, sentiremos na pele todos os dias. Estar numa sociedade que é, em sua essência, machista contribui para desacreditarmos de nós mesmas. Afinal, por tanto tempo nos foi imposto que não podíamos, que se tornou difícil acreditar no contrário. E é ainda mais difícil quando isso acontece “entre linhas”.
Por isso temos milhares de mulheres que ainda sofrem violência sem saber. Violência física, sexual, patrimonial, psicológica e moral. Todas os tipos de violência são existentes, mas a moral e a psicológica são as mais difíceis de se enxergar.
“A violência moral é entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria” (Lei Maria da Penha nº 11.340/2006) […] “A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação” (Lei Maria da Penha nº 11.340/2006 – Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018).
Tradução para a verdadeira prisão emocional. Estar nessa prisão nos traz prejuízos psicológicos, financeiros e sociais. E o caminho para a liberdade emocional passa pela informação e, principalmente, pelo autoconhecimento. Ter acesso a informações externas é, relativamente, fácil. Mas o difícil e extremamente doloroso é ter acesso as nossas informações internas. E só acessando este lugar tão íntimo e ao mesmo tempo tão distante é que conseguimos forças para lutar e se libertar.
Quantas mulheres já passou por você e você não estendeu a mão? Quantas vezes você já falou “apanha porque quer” ou “mereceu”? Quantas mulheres foram julgadas por você, sem ao menos conhecer sua história?
A base de toda luta é a busca pelo respeito e liberdade, mas continuar um movimento requer união.
O fortalecimento inicia-se no amparo e acolhimento.
Que saibamos ouvir e acolher;
Amar e defender;
Enxergar e se movimentar, para então conquistarmos a tão sonhada verdadeira liberdade.
Maíra Nogueira.